terça-feira, 15 de junho de 2010

#2

Era uma segunda-feira de carnaval estranha de um ano parecido. A última alternativa era estar com ele entre pessoas desconhecidas. Um quarto de casa grande em uma cidade cinza com nome de índio. Pessoas se divertindo ou acreditando estarem se divertindo. Às vezes se ouvia algum sussurro, uma reclamação entre os dentes batendo no copo de vidro. Algo sobre a música alta ou mosquitos. Naquela noite, no quintal sem iluminação, ele perguntou sobre a minha vida – quem sabe por curiosidade ou protocolo. Disse que eu estava morto e seco por dentro, terreno agreste, mas tentaria manter a normalidade, seria simpático ali naquele lugar inóspito. Me fantasiar de algo até o dia de cinzas. Lá longe, a única luz de um poste de rua coroava a cabeça dele. Um cristo que pesava a minha resposta. Talvez ele me absolvesse, indicasse alguma simpatia, um xarope ou apertasse a minha mão. Mas me deu um sorriso sincero com todos os dentes possíveis onde era possível ler: você não sabe nada da vida. No dia seguinte acordei e ele tinha partido depois de algumas ligações. Nunca mais nos encontramos.

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