quarta-feira, 24 de julho de 2013

#15

"Em algum momento da nossa breve História, foi preciso sair do que é nosso, do próprio corpo, das coisas que se constata com olhos e os outros sentidos. Fosse para articular o esquema de caça daquela noite ou comentar que o céu estava mais azul do que há algumas semanas, fez-se necessário a criação de uma ferramenta para ir ao Outro: a linguagem.

Não é difícil perceber que rodeia em toda a Natureza um halo de inexpressividade. Por exemplo, nas feições embotadas de um sapo quando é devorado por uma cobra ou a de um cervo que, ao beber água, é surpreendido por uma onça e aceita o seu fim sem muito alarde. Nada ali precisa ser comunicado, as situações estão dadas. Somente a nós, humanos, cabe combinar uma série de gestos e expressões visuais ou sonoras (a linguagem) na tentativa de comunicar um dado momento – ou, neste momento, a dor.

Mas vamos ao seguinte exemplo: Supondo que uma pessoa, independente da causa ou modo, tivesse a sua mão ferida. Um ferimento leve, com o qual ela não se deixou morrer, mas também não tentou conviver e guardar pra si essa dor. Esta pessoa se utiliza da linguagem e elenca uma série de outras ferramentas e símbolos (movimentos, gestos, gritos, lágrimas), na busca por convencer os outros a se interessarem por aquele acontecido. É aqui, neste momento, onde reside algo que assombra e marca com ferro a solidão da nossa existência: o fato que, por mais que essa pessoa se empenhe e se utilize dos mais requintados elementos para descrever o tal acidente sofrido com a mão, ninguém nunca chegara perto de sentir o que essa pessoa sentiu. De certa forma, existe um grau de incomunicabilidade entre nós que nunca será superado." 

Nenhum comentário:

Postar um comentário